Resultados preliminares da Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (Sisbiota Mar) confirmam cientificamente cenário conhecido
na prática por pescadores e comunidades litorâneas brasileiras: a quantidade de peixes na costa está muito menor do que em ambientes mais
protegidos, como as ilhas oceânicas. Nestas ilhas, a biomassa marinha chega a ser quatro vezes maior do que nas localizadas próximo ao litoral.
Os dados que resultam de censos visuais subaquáticos realizados em expedições marinhas serão apresentados na Austrália, no mês de julho, em
um dos mais importantes eventos científicos na área de pesquisa marinha, o 12th International Coral Reef Symposium (ICRS 2012).
“As ilhas oceânicas estão muito mais preservadas do que as da costa, pois no litoral a pressão é muito maior. Era um dado já esperado e agora
documentado”, informa o professor do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, Sergio Floeter, coordenador da Rede Nacional.
O apoio financeiro direcionado ao Sisbiota-Mar pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e CNPq
já permitiu a realização de expedições ao Atol das Rocas, Barreirinhas e Maracajaú (no estado do Rio Grande do Norte); a Tamandaré e ao
arquipélago de Fernando de Noronha (Pernambuco); a Maragogi (Alagoas); a Ilhas de Guarapari (Espírito Santo) e Baía de Todos os Santos
(Bahia).
Em cada uma das saídas de campo, censos visuais possibilitaram a mensuração da biomassa. Esse dado representa a média de peixes em
quilogramas, em áreas demarcadas de 40 metros quadrados. As informações são registradas pelos pesquisadores em mergulhos, com
estimativas, além de quantidade, do tamanho dos peixes. De acordo com Floeter, essa é uma metodologia adotada por pesquisadores da vida
marinha há mais de 20 anos. A Rede já realizou levantamentos de cerca de 100 amostras de 40 metros quadrados em cada ilha ou local da costa (que
representam aproximadamente quatro quilômetros quadrados investigados em baixo d'água em cada expedição).
Dados que já haviam sido obtidos em estudos anteriores e sua comparação com os atuais revelam grandes diferenças entre os ambientes. Em
relação a ilhas de Santa Catarina, por exemplo, o ambiente oceânico de Atol das Rocas (também uma Reserva Biológicas Marinhas, assim como
a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo) tem biomassa quatro vezes maior (12.9 kg/40m² documentados no Atol e 3,3 kg/40m² em ilhas de
Santa Catarina).
De acordo com Floeter, a Ilha da Trindade, localizada cerca de 1.200 quilômetros a leste de Vitória, é outro local em que foi documentada grande
biomassa . “Não é um parque ou reserva, mas é muito distante, por este motivo fica mais preservada”, avalia o biólogo que integra o Programa
de Pós-Graduação em Ecologia da UFSC e já orientou diversos trabalhos de graduação e pós-graduação sobre as comunidades de peixes no
litoral catarinense.
No caso das ilhas de Santa Catarina, com estudos realizados pela equipe de Floeter desde 2006 e que incluem ambientes da Reserva Biológica
Marinha do Arvoredo, os dados não são bons. “Mas a biomassa dentro da Reserva é ainda assim bem melhor do que fora dela”, ressalta o
pesquisador, otimista com o trabalho proporcionado pela pesquisa em rede, que integra estudiosos de oito universidades brasileiras (UFSC,
UFRGS, USP, UFF, UFRJ, UFES, UFC e UFRPE), envolve 15 programas de pós-graduação, 15 Pesquisadores de Produtividade do CNPq e jovens
pesquisadores.
Segundo ele, a rede consolida esforços regionais iniciados há mais de uma década, permitindo que grupos de pesquisa atuem de forma
harmônica e padronizada. Ela é constituída por três núcleos principais – Sul (nucleado na UFSC), Sudeste (nucleado na UFES) e Nordeste
(nucleado na UFRPE). Todas as equipes têm laboratórios, equipamentos de mergulho e coleta, muitos deles comprados com recursos do edital
Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (Sisbiota), lançado pela Fapesc em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação,
por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Ao longo de três anos, devem ser aplicados quase R$3 milhões em pesquisas que vão gerar suporte científico para estratégias de conservação
da biodiversidade marinha nacional e conhecimento sobre o potencial farmacológico dos biomas marinhos. Nos dias 26 e 27 de março,
pesquisadores da Rede se reuniram em Vitória (ES), para integração e compartilhamento dos estudos. De acordo com Floeter, a equipe já
processa também resultados promissores sobre espécies marinhas que podem contribuir com o desenvolvimento futuro de fármacos, mas que
levarão ainda algum tempo para serem divulgados.
Mais informações com o professor Sergio R. Floeter, (48) 3721-5521
Por Arley Reis / Jornalista na Agecom |