| O peixe-leão, Pterois volitans, é natural do Oceano Pacífico e foi introduzido na costa Atlântica dos EUA a cerca de 15 anos atrás. A provável causa da introdução foi a importação para o mercado aquariófilo e a subsequente soltura de peixes na costa da Flórida. Desde então, o peixe-leão tem se
 espalhado rapidamente por uma grande area da costa leste Norte-Americana e em praticamente todo o Mar do Caribe. O peixe-leão é um predador
 que se alimenta de outros peixes. Devido a características únicas em seu comportamento de predação, somado a falta de experiência dos peixes
 nativos com o invasor, o peixe-leão vem diminuindo significantemente a abundância de peixes nativos na região do Caribe, incluindo espécies
 importantes para o equilíbrio ecológico dos recifes de corais, como o peixe-papagaio por exemplo. Devido a facilidade com que captura presas, a
 abundância de peixes-leão no Caribe tem crescido exponencialmente, e atualmente são maiores e mais numerosos na região invadida do que na sua
 área de distribuição original.
 A costa Brasileira é separada do Mar do Caribe pelo grande influxo de água-doce e sedimentos jorrados do Rio Amazonas no Oceano Atlântico. O peixe-leão, entretanto, possui todas as características que favorecem a sua migração através desta fronteira biogeográfica, chamada de Barreira
 Amazônica. Ele é adaptado a viver em uma grande variedade de habitats costeiros além de recifes de coral, como manguezais, bancos de
 capim-marinho e fundos de areia e lama, e podem viver em águas relativamente profundas, o que pode favorecer a migração por baixo da camada
 superficial de água-doce expelida pelo Rio Amazonas. Todas estas características, associadas a sua rápida capacidade de invasão, nos faz esperar que o
 peixe-leão estenda sua distribuição a costa Brasileira tão logo ele chegue ao Sul do Caribe.
 Entretanto, já decorridos quase 4 anos desde que chegou ao sul do Caribe, felizmente o peixe-leão ainda não foi registrado nos recifes Brasileiros. É importante saber a razão pela qual o peixe-leão ainda não chegou no Brasil. Essa informação nos permitirá prever a extensão final que a invasão
 poderá chegar e quais os locais que estão em risco eminente. Para tentar entender os fatores que dificultam a migração do peixe-leão para o Brasil, o
 biólogo Osmar Luiz e colaboradores investigaram padrões de migrações recentes entre espécies de peixes recifais através da Barreira Amazônica e
 descobriram que estas migrações são muito mais comuns em espécies Brasileiras indo em direção ao Caribe do que ao contrário. A causa deste
 desequilíbrio no número de espécies que vão do Brasil para o Caribe em relação a quantidade de espécies que vem do Caribe para o Brasil é
 provavelmente a direção da Corrente Marinha do Norte do Brasil, que apesar de variar de intensidade, possui um sentido de fluxo constante do Brasil
 para o Caribe.
 Apesar do resultado animador, o risco de invasão do peixe-leão no Brasil é real. Migrações de espécies vindas do Caribe para o Brasil são infreqüentes porque são contra as correntes. Mas há exemplos de que já ocorreram e resultaram no estabelecimento de espécies em águas Brasileiras. Porém, como
 a pesquisa indica, a combinação de efeitos da Barreira Amazônica e das correntes marinhas que prevalecem na região podem retardar uma potencial
 invasão do peixe-leão no Brasil, o que pode ajudar no sucesso de campanhas de erradicação, mas apenas se a ação for tomada antes que o peixe-leão
 se torne amplamente distribuído na costa Brasileira.
 
 Contatos:Dr. Osmar J Luiz: osmarluizjr@gmail.com
 Dr. Sergio R Floeter: sergio.floeter@ufsc.br
 Dr. Carlos E.L Ferreira: carlosferreira@id.uff.br
 Dr. Luiz A. Rocha: LRocha@calacademy.org
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